Material Educativo

Modelo de Interoperabilidade HL7: histórico, versões e benefícios

Site-Modelo-de-Interoperabilidade-HL7.png

1. O que é HL7?

A crescente quantidade de informações relacionadas à saúde dos pacientes gerou uma demanda por padronização e compartilhamento de dados entre sistemas hospitalares, possibilitando que informações qualificadas estejam facilmente disponíveis e atualizadas para melhorar os cuidados médicos prestados. Assim, surgiu o modelo padrão de mensagem HL7.

O HL7 é um dos “padrões” de mensagem mais utilizados pelo setor de saúde, definido por lógicas e formatos que permitem a troca, o compartilhamento e a recuperação de informações entre aplicações em todos os ambientes da saúde, integrando informações de natureza clínica e administrativa.

2. Por que HL7?

O padrão HL7 é um acrônimo do nome “Health Level 7”. Esse padrão refere-se a um conjunto de normas internacionais para a representação e a transferência de dados entre sistemas de informação de saúde. Esses dados podem ser administrativos ou clínicos, tendo origem em clínicas, consultórios, laboratórios, hospitais, sistemas de saúde pública, operadoras de planos de saúde, etc.

O nome para o padrão HL7 vem do modelo ISO/OSI (International Stardardization Organization/Open System Interconnection). Esse padrão, adotado mundialmente como padrão de comunicação, é composto por sete camadas:

  1. Física;
  2. Enlace;
  3. Rede;
  4. Transporte;
  5. Sessão;
  6. Apresentação;
  7. Aplicação.

A camada de aplicação é a última camada, na qual os usuários trabalham. Nessa camada são executadas as aplicações (programas) utilizadas para prover uma interação entre a máquina e o usuário.

3. Versões do HL7

O modelo de mensagem foi criado em 1987 por um comitê de usuários/fornecedores de uma conferência organizada pelo Hospital da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos (EUA). Desde então, foram geradas várias versões do modelo, visando melhorar o processo de padronização e troca de mensagens no setor de saúde.

  1. HL7 V1: foi o primeiro modelo a ser criado em 1987, mas não chegou a entrar em produção, sendo logo aprimorado e substituído pelo V2.
  2. HL7 V2: foi a primeira versão em produção que atendeu à necessidade de práticas clínicas. A metodologia adotada para criação dessa versão foi a regra 80/20, cujos 80% da estrutura do padrão está definida pelo HL7 e os 20% restantes para serem personalizados pelos implementadores, atendendo às necessidades locais ou específicas. O HL7 V2 permitiu a interoperabilidade entre os sistemas de gestão eletrônica de consultórios, sistemas eletrônicos de administração de pacientes, sistemas dietéticos, de farmácia e de faturamento, sistemas de informação de laboratórios, bem como os registros médicos eletrônicos, sendo esta a versão mais utilizada mundialmente.
  3. HL7 V3: devido à grande possibilidade de personalização do modelo anterior, foi criada a versão HL7 V3, fornecendo um modelo rígido e com menos estruturas personalizáveis, menos funções de aplicativos, menos opções de mensagens e para criar e manter interfaces a médio e longo prazo. Por problemas passados, o HL7 V3 não é compatível com versões anteriores, ou seja, não funciona com o V2.
  4. HL7 FHIR: novamente buscando uma evolução no modelo HL7, foi criado o padrão FHIR, que é o último e mais recente. FHIR é acrônimo para “Fast Healthcare Interoperability Resources”. O modelo FHIR incorpora o melhor das versões anteriores, oferecendo uma versão mais bem definida, com maior segurança e mecanismos mais fáceis para personalização, quando necessária.

4. O HL7 V2:

Um dos padrões mais implementados para informações de saúde no mundo, o padrão de mensagens na versão 2 foi lançado em 1987. Em razão do uso generalizado, essa versão foi atualizada ao longo do tempo, criando assim as versões 2.1 até a 2.9, sendo esta a mais recentemente lançada. Por esse motivo, comumente encontramos informações referindo-se à versão do HL7 V2 com a representação “HL7 V2.x”, sendo o “x” a atualização do padrão versão 2.

O padrão de mensagens versão 2.x do HL7 é o padrão com maior implementação em sistemas de saúde no mundo. Estima-se que cerca de 95% das organizações de saúde dos EUA utilizem HL7 V2.x e mais de 35 países possuam implementações do HL V2.x.

Neste tópico, falaremos um pouco mais sobre os tipos, componentes e segmentos de uma mensagem HL7 V2.5.

  • Tipos: atualmente há mais de 80 tipos de mensagens HL7, contudo, elencamos aqui alguns dos mais utilizados:
Message Type Description
HL7 ADT Admit, Discharge and Transfer
HL7 ORM Order Entry
HL7 ORU Observation Result
HL7 MDM Medical Document Management
HL7 DFT Detailed Financial Transactions
HL7 BAR Billing Account Record
HL7 SIU Scheduling Information Unsolicited
HL7 RDS Pharmacy/Treatment Dispense
HL7 RDE Pharmacy/Treatment Encoded Order
HL7 ACK Acknowledgement Message
  • Componentes: uma mensagem HL7 consiste em um ou mais segmentos, sendo cada segmento exibido em uma linha diferente de texto. Segmentos consistem em uma ou mais composições, também conhecidas como campos. Esses campos são separados por um caractere de pipe (|) e, caso essas composições compreendam outras composições, isto é, subcomposições, normalmente estas são separadas pelo caractere circunflexo (^).
  • Segmentos: cada segmento de uma mensagem HL7 contém uma categoria específica de informações, como dados do paciente ou dados referentes à internação do paciente. O nome de cada segmento é especificado pelo primeiro campo, que por padrão possui três caracteres. Há mais de 120 segmentos diferentes disponíveis para uso em mensagens HL7. No exemplo abaixo, temos quatro segmentos HL7: MSH, PID, NK1 e PV1, além de uma mensagem do tipo ADT.
  • Eventos HL7: o padrão HL7 define “evento de acionamento” (Trigger Event) como “um evento no mundo real da assistência médica (que) cria a necessidade de fluxo de dados entre sistemas”. Cada evento de acionamento está associado a uma mensagem abstrata que define o tipo de dados que a mensagem precisa para dar suporte ao evento de acionamento. No caso de mensagens do tipo ADT, há mais de 50 tipos diferentes de eventos. Dentre os mais comuns, temos os seguintes:
Trigger Event Description
ADT^A01 Patient Admit/Visit
ADT^A02 Patient Transfer
ADT^A03 Patient Discharge
ADT^A04 Patient Registration
ADT^A05 Patient Pre-Admission
ADT^A08 Patient Information Update
ADT^A11 Cancel Patient Admit
ADT^A12 Cancel Patient Transfer
ADT^A13 Cancel Patient Discharge
  • Exemplo de mensagem ADT HL7 V2.5:
    As mensagens HL7 ADT (Admit, Discharge and Transfer) são usadas para comunicar dados demográficos do paciente, informações sobre a visita e o estado do paciente em uma instituição de saúde.

mensagens-HL7-ADT.jpg

Os segmentos HL7 desse exemplo contém as seguintes informações:

  • O segmento MSH (Message Header) contém informações sobre a própria mensagem, incluindo o remetente e o destinatário da mensagem, o tipo de mensagem, a data e a hora em que foi enviada. Toda mensagem HL7 especifica o MSH como seu primeiro segmento.
  • O segmento PID (Patient Information) contém informações demográficas sobre o paciente, como nome, ID do paciente e endereço.
  • O segmento NK1 (Next of Kin) contém informações de contato do parente mais próximo do paciente.
  • O segmento PV1 (Patient Visit) contém informações sobre a estadia do paciente no hospital, como o local designado e o médico que o encaminhou.
    Tecnicamente, as mensagens HL7 vêm em formato legível por humanos (ASCII), mas não são de simples interpretação. No entanto, eles possuem uma infinidade de segmentos e campos, cada um contendo informações importantes sobre saúde.

5. O HL7 FHIR:

Este é o modelo mais atual do padrão, com ampla adesão em muitos países de todos os continentes. A Argentina e o Chile, ambos da América do Sul, o adotaram para registros médicos longitudinais, além de método de intercâmbio de dados entre organizações de saúde.

Com tamanha aderência, o HL7 FHIR vem aprimorando a implementação de interoperabilidade com terminologias como o SNOMED (Systematized Nomenclature of Medicine International Clinical Terms) e o LOINC (Logical Observation Identifiers Names and Codes). O intuito é permitir que informações clínicas relevantes sejam registradas usando representações comuns e consistentes, padronizando as informações de atendimento do paciente, independentemente da instituição de saúde que ele seja tratado, apoiando nas decisões clínicas e, assim, melhorando a qualidade no cuidado dos pacientes.
Abaixo, alguns benefícios e vantagens desse modelo:

  • Utiliza a “linguagem” das tecnologias baseadas na nuvem (JSON/REST, XML/SOAP);
  • Modelo granular e simplificado para troca de dados em saúde que contrasta com a rigidez do fluxo de trabalho tradicional do HL7;
  • Estabelece especificação comum com a qual os profissionais da área de saúde podem compartilhar informações;
  • Permite desenvolver aplicativos para acesso a informações de alta qualidade, de modo a facilitar a usabilidade;
  • Apoia melhorias na prestação de cuidados de saúde, incluindo novas iniciativas, como cuidados baseados em valor.

A Epimed Solutions possui estrutura para atender nossos clientes que desejem realizar interoperabilidade nos modelos V2 e FHIR, além de estar preparada para integrar com as terminologias clínicas padrões SNOMED e LOINC.

Falaremos mais sobre esta versão do HL7 no próximo artigo. Fiquem atentos às próximas atualizações!